Sapatos Gucci (2)
Ainda o livro de memórias da Esther Williams, em que
ela conta tudo sobre
maridos exploradores e namorados estranhos, como o
Jeff Chandler, que se
vestia de mulher e preferia sapatos Gucci.
Gostei de saber que Esther Williams não tem nada a
dizer no seu livro contra
outro contemporâneo, o Victor Mature, a não ser que
era um namorador
compulsivo. Defendo a tese que a evolução da vida
no
planeta teve um único fim,
o de produzir Victor Mature. Desde as primeiras
amebas boiando no caldo
primevo, não havia outra intenção na Natureza senão
a de, através de milênios e
milênios de tentativa e erro, chegar ao Victor
Mature. Tudo que se desenvolveu
entre o protoplasma e o Victor Mature foram
equívocos descartados. Você, eu, o
rinoceronte etc. somos as sobras do processo. Há
quem sustente que o que
motivou a matéria a evoluir foi a busca da sua
própria superação, que o fim
desejado era a inteligência artificial, o
computador, finalmente o conhecimento
que independe do corpo e dos sentidos e portanto
torna o homem, a penúltima
etapa antes da perfeição, obsoleto. Não era. Era o
Victor Mature. Seus peitorais
e a sua cara de burro satisfeito, a matéria no seu estágio supremo de autojustificação.
Feito o Victor Mature, a evolução perdeu o sentido.
E morto o Victor Mature, resta à vida orgânica mais alguns anos de irrelevância sobre a Terra antes de
desaparecer por completo, já que sua missão está cumprida.
Este sentimento de fim de tudo, esta premonição de que estamos entrando num milênio supérfluo
- até, quem sabe, todos estes desastres naturais - não passam, no fundo, da ausência do Victor Mature. E é confortador saber
que, ao contrário do Jeff
Chandler, se Victor Mature alguma vez usou sapatos
Gucci, foram dos pra
homem.
A espécie está de alguma forma redimida da sua pretensão e da sua brevidade.
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